fevereiro 04, 2006

A CHACUN SES FAUVES


Quantos assistentes teria em Portugal um jogo de exibição entre duas equipas da 2ª divisão inglesa de futebol? Seguramente menos que o número de entradas já vendidas no Museu do Chiado para a exposição "O olhar Fauve". E teria - seguramente - uma muito menor exposição mediática. O que, num país que pára durante uma semana a discutir se os energúmenos que partiram os vidros do carro do treinador da equipa de futebol do FCPorto pertencem ou não à claque do clube, diz muito. Do país e da relativa importância das coisas.

A exposição pomposamente anunciada como "O" olhar Fauve (não "UM" olhar, não "ALGUM DO" olhar) tem muito de jogo de exibição de uma selecção de estrelas da segunda divisão francesa do início do século vinte. E é uma semi-falácia. Porque para quem não conheça antecipada e minimamente a obra dos grandes-mestres fauvistas esta mostra ensina que "O" olhar fauve não passa de um aglomerar de olhares menores e pífios, de autores desconhecidos e temporalmente espalhados (vejam-se as datas das obras) desde o início do século XX até quase ao início da II Guerra. Quando o fauvismo foi muito mais do que isso. Quando se constituiu como evolução do impressionismo quanto ao uso da côr como construtora de espaços e ambientes. Quando foi percursora e enunciou questões e propôs soluções que viriam e desembocar no cubismo. Onde estão os grandes trabalhos de Matisse? Não nas duas obras menores que, perdidas, se escondem no meio das outras menores obras (salva-se uma tela de Renoir - merecia melhor companhia).

Será importante esta apresentação em Portugal? Sim, apesar de tudo, dada a rarefação de referências do período nos museus portugueses e a ausência de verbas, de espaços e de condições para aqui trazer as grandes obras do período. Mas devidamente enquadrada e devidamente relativizada a sua importância - trata-se de parte do acervo de um museu de uma cidade de província (enfim, mesmo assim com maior quantidade e qualidade de obras que os museus de arte moderna portugueses), servindo mais para colmatar as lacunas sobre o período que a visão das obras mais importantes sempre deixa. Só.

Sem mais funfuns nem gaitinhas.

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