"Parabéns", disse-me o presidente da mesa de voto, "ganhou o campeonato - foi o voto mais rápido até agora." Não lhe podendo explicar o porquê da rapidez, limitei-me a um "pois", dei as boas-tardes e saí.
Não lhe expliquei mas apetece-me explicar agora. Bear with me.
Pedro Santana Lopes foi o mais inábil e impreparado (política e tecnicamente) primeiro-ministro que o país conheceu desde Vasco Gonçalves. Conseguiu alienar o apoio das personalidades mais interessantes do partido. Acentuou a sua deriva para a direita. Construiu a sua entourage com base em personagens de carácter e currículo mais que contestável. Representa o que de mais baixo a política tem, quer no que respeita à sobreposição dos interesses pessoais face aos interesses da sociedade quer no que respeita à total ausência de sensibilidade em relação às aspirações, às necessidades, às expectativas dos cidadãos.
Não teria nunca o meu voto.
José Sócrates aparece como secretário-geral do PS caucionado por uma aura de eficácia e eficiência baseada não sei em que factos - na sua carreira profissional? - inexistente; na sua carreira política? - descontados os poucos anos em que assumiu a pasta do ambiente (com resultados ambíguos - veja-se a polémica do caso Freeport, veja-se a escolha e da co-incineração e a teimosa defesa que ainda hoje faz da mesma face a soluções tão eficazes quanto aquela e muito menos poluidoras) - inexistente; na sua carreira televisiva? - talvez. De onde surgiu Sócrates? Quem o acompanha? Maioritariamente, o mesmo grupo de fieis de Guterres. A vitória de Sócrets e do PS não pressupõe uma nova via para o país diferente da seguida entre 96 e 2002. Provavelmente significará mais do mesmo vivido até há 6 meses atrás: a mesma demagogia, o mesmo compadrio, o mesmo encapotado vício de distribuir jobs pelos boys and girls. Mais PS é mais bloco central. Com uma patine de preocupações sociais (menores do que antigamente já que as restrições orçamentais serão menos ultrapassáveis), mas mais do mesmo. Votar PS seria votar no mal menor (face a PSL); seria votar para expulsar o PSD do poder.
E, desta vez, não me apetece ficar com o amargo de boca que é sentir que votei na pessoa errada só para correr com uma errada pessoa.
Afastado o bloco central, o que resta?
Portas e a sua camaleónica actuação? O PP e a sua visão reaccionária, liberal e conservadora para o país?
Não, mesmo obrigado.
Louçã e o seu iluminado saber? O BE que, à medida que cresce em votos, revela a verdadeira esquizofrenia de que padece, entre a liberalidade de costumes que apregoa e o moralismo que pratica, entre as causas fracturantes que defende e os estritos limites que impõe ("não pode falar do direito à vida, dr. Portas...")?
Não, mesmo obrigado.
O PCP que, apesar do restyling estilístico do seu novo secretário-geral, continua a defender programas e sistemas de Estado completamente fora da realidade actual?
Não, mesmo obrigado.
Talvez os partidos pequenos, defensores de posições interessantes em áreas específicas (como foi em tempos o MPT) e que servem precisamente para uma tomada de posição pontual de um eleitor que não se revê nas propostas dos maiores partidos. Mas para onde foram e quem são, nas presentes eleições? Um partido maoista que acolhe um ex-dirigente de um partido monárquico? Um partido de extrema-direita com ligações proibitivas? Um partido de extrema-esquerda com as mesmas personagens que já o dirigiam em 76? Um partido alienígena que nem actualizar a música de fundo dos tempos de antena consegue e que é inexistente entre campanhas eleitorais? Um partido regional? Um partido de direita com boas intenções mas no qual o seu dirigente máximo ainda não conseguiu resolver a dôr-de-cotovelo pela derrota que sofreu no seu antigo partido?
Não mesmo.
Que fazer então?
A resposta pareceu inevitável.
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