setembro 16, 2006

THE SUN

Totalmente patética, esta primeira edição do novo semanário português. Umbiguista e incapaz de matar a ligação ao pai, a imagem fiel do seu director.

Na página 3 do caderno principal - como não poderia deixar de ser - lá está a "Política à Portuguesa" renomeada "a sério". Aliás, todo o primeiro caderno - apesar do grafismo que se pretendeu "original", apesar da côr - é uma permanente citação do Expresso, quer pela organização de temas, quer pela tipo de escrita quer, principalmente, pela profusão de referências indirectas à anterior empresa da maioria dos seus jornalistas.

A edição contém ainda uma "agenda" com dimensões e conteúdos em tudo idênticos à do Expresso; Uma revista fútil e cheia de nada idêntica à Única, com um artigo de fundo sensacionalista escrito pela mais mediatizada jornalista portuguesa de investigação que continua a confundir escrita criativa com narrativa desconexa e baralhada; e um suplemento côr-de-salmão dedicado - pasme-se! - à economia e negócios.

Marca maior deste problema filial é o anúncio da publicação - em capítulos! - das memórias do director onde se narrará em pormenor, os meandros da sua saída do Expresso. Isto, depois de uma página inteira intitulada "Como nasceu o Sol - Da ruptura com o Expresso às reuniões fundadoras na casa sobre o Tejo". Como se vê, momento transcendente e marcante na história mundial e - quiçá - do bairro da Madragoa.

Numa coisa, no entanto, este sol português preferiu adiantar-se: na inclusão de temas "light" no caderno principal: Marcelo retorna com a sua prosa em estilo de diário (convenientemente denominado "blogue" para rimar com o ar dos tempos); Margarida Rebelo Pinto alinha uma série de banalidades sobre sexo para nada dizer; Reininho usa a técnica de responder com "silly answers" a "stupid questions". Enfim, a espuma dos dias.

É isto o jornalismo diferente e moderno que o candidato a Nobel Saraiva há meses vem prometendo?

Se calhar, é. Não fica distante da apetência que a maioria dos portugueses vem demonstrando por novelas, reality shows e tudo, tudo, tudo o mais que não obrigue a pensar, a reflectir, a intervir.

Cardoso e Portas, voltem. Mesmo com mais vinte anos em cima, continuam sem rival.

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