março 24, 2004

REBOQUE TURNS GOURMET VIII - DILEMA PROFUNDO



Os melhores espargos são os verdes ou os brancos? Eu confesso que perante um conjunto de emaciados e moles espargos brancos, servidos com maionese, molho de manteiga ou mousseline (para não falar das inacreditáveis baixas temperaturas a que é moda servi-los) não percebo como, durante tanto tempo, eles puderam estar associados a ideias de preservação do tónus. Como é que uma ponta insípidamente preparada poderia competir com o vigor visual que, mesmo depois de cozinhados, os seus companheiros verdes apresentam é coisa que me ultrapassa.

Um espargo branco é um produto contra-natura, isolado do Sol. É um resquício do tempo em que uma pele tisnada pelo Sol era sinónimo de classe baixa, onde cada centímetro de pele era cuidadosamente coberto de rendes, folhos, mousselinas, algodões, fazendas. Cheira a mofo, a arcas bolorentas, a preconceitos sem sentido e sem lugar.

Um espargo exige-se verde. Verdes pois venham eles e rapidamente passados pelo calor, crocantes, perturbantes, plenos de subtileza e promessas de gostos solares. Verdes pois, subtis e enebriantes, acompanhados por um seco branco para que, imperturbados cumpram a sua missão de agradar.

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