fevereiro 19, 2006


A fé das pessoas comove-me. Há uma parte da minha infância , do misterioso, do deslumbramento perante o milagre que retorna e, por momentos, anula o ser excessivamente racionalizado que sou. A emoção a derrotar a razão.

Aprecio pessoas que têm fé. Que norteiam a sua vida por essa bússula de certezas. Têm um foco. Não desanimam. Apesar de todas as contrariedades, têm um objectivo que os orienta.

Não posso deixar de constatar que, extensiva que é a todas as religiões, também falamos de pessoas com fé quando referimos os integrantes das violentas manifestações contra as caricaturas de Maomé ocorridas nas últimas semanas nos países muçulmanos.

O que me faz pensar em qual seria a reacção das centenas de milhar de pessoas hoje reunidas em Fátima se um bispo mais colérico resolvesse, por exemplo, alertar de cima do púlpito, para a blasfémia que constitui um filme como o "Je Vous Salue Marie". Ou uma eventual caricatura da irmã Lúcia e dos restantes pastorinhos . Há por aí um não-crente à mão?

fevereiro 17, 2006

REMÉDIO ANTI-MONOTONIA




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DESENCONTROS


"All I want is to make you happy"
"You don't have to. All I want is for you to leave me alone"

Quando as relações chegam a este ponto, a única solução é mesmo o fim.

Da relação ou do ser amante. Não se chateia mais ninguém.

A paixão não chateia mais ninguém.

fevereiro 16, 2006

SPORT'OING! (II)


Mas porque é que o Roquette não aproveitou e vendeu também a porra do clube ao Banesto???

SPORT'OING! (III)


Com a quantidade de empreiteiros a anunciar a pré-candidatura à presidência do Sporting, agora é que SCP vai querer mesmo dizer Sociedade de Construções e Planeamento.

SPORT'OING! (I)


O empresário Diogo Vaz Guedes, actual presidente do conselho de administração da «Somague», está a ser pressionado para apresentar a sua candidatura à presidência do Sporting, segundo noticia a Renascença. [abola.pt]

Espero que ganhe. Com um bocado de sorte, daqui a uns meses está a vender isto a um clube grande de Espanha desejoso de conquistar o mercado ibérico.

fevereiro 15, 2006

PIRILAULAND


A deriva para o politicamente correcto que se acentuou em Portugal desde o consulado Guterres e tem a sua expressão gloriosa nas recentes declarações do estimado ministro dos Negócios Estrangeiros (ai a culpa cristã que ataca tão tarde!!!) - as caricaturas são uma ofensa mortal a quem, coitado, tão solidariamente vive com as suas conterrâneas e com o resto do mundo e é o Ocidente quem se deve vestir de burel e, de corda ao pescoço, ir de joelhos a Meca (a Teerão? a Khartum? a Cabul?) pedir perdão pelos erros dos antepassados - sofreu - na aparência - um revés em Lisboa com a conclusão da trilogia machista que coroa o Parque Eduardo VII.


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Iniciada com a construção do parque com a erecção (na verdadeira acepção do termo) de dois falos duplos coroados com douradas palmas de louros (repare-se na mensagem subliminar: as gloriosas e heroicas pilas portuguesas valem por duas!), a homenagem continuou com o monumento ao 25 de Abril: uma pila (ainda que recusando as proporções johnholmianas do Estado Novo) em permanente ejaculação, fortemente apoiada na sua erecção por dinâmicas escoras (dizendo: o pau revolucionário português está sempre em pé, sempre em acção, sempre em orgasmo) e tem agora o seu apogeu com a implantação do mastroide que suporta a bandeira nacional (que melhor propaganda? o pau português é grande e bom e desfralda-se ao vento faça quente ou faça frio seja Verão ou seja Inverno - a prick for all seasons (adoptando desde já este blog o choque tecnológico de ir falando em inglês).


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Quem olha do Marquês, o que vê? Uma floresta de falos, a encimar a cabeluda colina do parque. Uma pirilauland. Propaganda, homenagem, vanglorice. País de machos latinos que somos.

Ou isso ou, considerando os costumes nocturnos da zona, tudo ser antes uma bem urdida conspiração da nossa terceira via para os publicitar.

CUSTOS DO DESENVOLVIMENTO


Temos de ter dinheiro para pagar o telemóvel, a televisão por cabo, o aquecimento central, o carro, a prestação da casa, os cds, os dvds, as férias, as roupas (os sapatos! os sapatos! os sapatos!) e todas as outras porras que a publicidade, o boca-a-boca, o exemplo de amigos e viznhos nos convence que é absolutamente necessário ter.

E depois queixamo-nos da concorrência desleal dos trabalhadores dos países subdesenvolvidos que ganham um centésimo do que nós exigimos de salário. Cá chegarão.

Ou lá chegaremos.

FILOSOFIA BARATA


A grande merde desta vida não é desperdiçar oportunidades; é só dar por isso muitos anos depois.

fevereiro 12, 2006

QUE MALFICA


Decerto espicaçados no seu orgulho de pertencerem a tão notável clube depois das tareias averbadas nas duas últimas jornadas, os jogadores do clube da 2ª Circular sacrificam as consensuais regras de fair-play e insistem em continuar a jogar com um adversário caído no chão por lesão. Da jogada surge o terceiro golo e o comentador rejubila com tão notável sentido de companheirismo.

Até parecia o Marcelo com a chegada do capitalismo.

NOTAS DA SEMANA QUE PASSOU


VÁRIAS CARICATURAS explodiram pelo mundo árabe. Mortos e feridos q.b.

FREITAS DO AMARAL cada vez mais politicamente correcto, ataca os autores dos cartoons que ninguém viu como uma ofensa intolerável à fé dos muçulmanos. Aparentemente, esqueceu-se de que, quando mais uma pessoa se baixa...

A SONAE ANUNCIA UMA OPA sobre a PT e toda a gente rejubila. Dir-se-ia que a anunciada intenção de desmantelar a maior empresa nacional é coisa de somenos. O facto de uma sucursal de um banco espanhol se alcandorar ao topo à conta desta compra também não causa preocupações aos comentadores nacionais. Ironia das ironias, Belmiro de Azevedo faz da conquista do monopólio da rede de telefonia móvel - que tanto contestou até agora - o principal motivo para a compra do gigante. Marcelo Rebelo d Sousa rejubila na RTP - é a chegada do capitalismo puro e duro a Portugal, diz seráfico . Olha que bom.

fevereiro 07, 2006

BELÉM, ESTUDO EM VERMELHO


A arte pública tem encontros assim, formas que pretendem ser de um outro tempo com outras cuja pretensão única parece ser a de nos confrontar com a sua ausência de referências.


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A CABEÇA À RODA DE LISBOA


Compreendo perfeitamente o medo de suicídios dos antigos responsáveis pelo elevador de Santa Justa: depois das não-sei-quantas-voltas-que-se-dão-na-escada-de-caracol-até-chegar-ao-mirador e da vista deliciosa sobre a Lisboa certa, já nada mais importa.

fevereiro 06, 2006

CCB




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Da câmera obscura de Joshua Benoliel extrai José Luís Neto imprecisões. Como o busto romano que nos fita (ver em baixo), ignota mensagem de um outro tempo, também aqui o sujeito se desmaterializa. Também aqui este fantasma já foi gente, muito mais do que um número no sistema que era aquando da fotografia original. Gente com sangue, tripas, desejos, medos. Gente como nós.

E como ele, nos tornaremos em fantasmas ocupantes de pedaços de papel desbotados em albuns de família. Pior. Combinações binárias nos arquivos informáticos de ficheiros obsoletos.

MNARQ



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Já foi gente, já sentiu, sofreu, amou.
Já foi muito mais do que a memória empoeirada de uma época que, de tão longínqua, quase nada nos diz.
Já foi uma mulher, teve sonhos, angústias, esperanças.
Terá amado? Amou decerto, filhos ou pais, amante ou utópica paixão.
Foi gente.
Hoje é pedra.

BELÉM


Deixando a esmagadora maioria dos turistas descansados na sua perigrinação trinomial Jerónimos-pasteis-Coches, o Museu Nacional de Arquelogia pouco faz para os chamar a si. É certo que não abundam no seu acervo peças que, em alternativa às "enormidades" que os principais e mediáticos museus do mundo oferecem, os façam mudar de percurso.

Mas, para nós, humildes descendentes dos vários povos habitantes primitivos da Península, pode ser uma oportunidade de nos confrontarmos e reflectirmos sobre as nossas raízes. E de, ao menos uma vez, vermos a realidade das peças e não a sua reprodução num livro escolar.


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fevereiro 05, 2006

MUDAR DE VIDA

Vou mudar de hábitos: passar a acordar às 10 durante a semana e às 8 ao fim-de-semana. Lisboa - como todas as cidades - nas primeiras horas das manhãs de Domingo é absolutamente deliciosa: toda para nós, uma lembrança dos Agostos de há vinte anos, antes de férias repartidas e crises de tesouraria.

Vou partilhar um segredo: a esplanada do CCB, apesar da bica a 67 cêntimos é um local de eleição nestas alturas - nem criancinhas berrantes, nem lotação esgotada, nem excesso de população (a população de fim-de-semana é terrivelmente pretenciosa: classe média bem-pensante e igualmente vácua).

NOW IS THE WINTER


É assim o Inverno português - há uma semana batiam-se os dentes de frio, batiam-se palmas à neve. Hoje, um glamoroso Sol, um profundo azul no céu sem sombra de nuvens e a beira-rio cheinha, cheinha.

fevereiro 04, 2006

ADRIÀNAR - A SAGA (I)


First things first:

http://www.elbulli.com/main.php?url=/prensa/

A CHACUN SES FAUVES


Quantos assistentes teria em Portugal um jogo de exibição entre duas equipas da 2ª divisão inglesa de futebol? Seguramente menos que o número de entradas já vendidas no Museu do Chiado para a exposição "O olhar Fauve". E teria - seguramente - uma muito menor exposição mediática. O que, num país que pára durante uma semana a discutir se os energúmenos que partiram os vidros do carro do treinador da equipa de futebol do FCPorto pertencem ou não à claque do clube, diz muito. Do país e da relativa importância das coisas.

A exposição pomposamente anunciada como "O" olhar Fauve (não "UM" olhar, não "ALGUM DO" olhar) tem muito de jogo de exibição de uma selecção de estrelas da segunda divisão francesa do início do século vinte. E é uma semi-falácia. Porque para quem não conheça antecipada e minimamente a obra dos grandes-mestres fauvistas esta mostra ensina que "O" olhar fauve não passa de um aglomerar de olhares menores e pífios, de autores desconhecidos e temporalmente espalhados (vejam-se as datas das obras) desde o início do século XX até quase ao início da II Guerra. Quando o fauvismo foi muito mais do que isso. Quando se constituiu como evolução do impressionismo quanto ao uso da côr como construtora de espaços e ambientes. Quando foi percursora e enunciou questões e propôs soluções que viriam e desembocar no cubismo. Onde estão os grandes trabalhos de Matisse? Não nas duas obras menores que, perdidas, se escondem no meio das outras menores obras (salva-se uma tela de Renoir - merecia melhor companhia).

Será importante esta apresentação em Portugal? Sim, apesar de tudo, dada a rarefação de referências do período nos museus portugueses e a ausência de verbas, de espaços e de condições para aqui trazer as grandes obras do período. Mas devidamente enquadrada e devidamente relativizada a sua importância - trata-se de parte do acervo de um museu de uma cidade de província (enfim, mesmo assim com maior quantidade e qualidade de obras que os museus de arte moderna portugueses), servindo mais para colmatar as lacunas sobre o período que a visão das obras mais importantes sempre deixa. Só.

Sem mais funfuns nem gaitinhas.

Matar em nome de Alá, isso sim é uma blasfémia.

fevereiro 01, 2006


Ninguém para o Adriá?

(Hum...)

Magros! Niquentos!!!