Há um Macguffin perfeito no mais recente filme de Shyamalan, donde se prova que o rapaz, para além de muito capaz, soube aprender com os mestres.
(Sabemos que estamos a entrar na idade da razão quando descobrimos que Ripley se cansou de passear o seu formoso corpo pelo espaço e vive tranquila num remoto vale da América profunda, mãe de um rapagão de 30 anos)
setembro 29, 2004
A BARRIGA DA PRODUTIVIDADE (II)
Contaram-me que uma associação ecologista entrou com um pedido de providência cautelar para embargar o processo de licenciamento de uma série de parques eólicos pelo país todo cujo financiamento da união europeia estava em risco de se perder. Já não considerando a perda do investimento e da criação de riqueza (mais um balão de oxigénio para os empreiteiros) e de postos de trabalho, o que me parece grave é o abandono definitivo das metas de Quioto com que Portugal se comprometeu que esta paragem (a acontecer) irá provocar.
Não é só o nosso presente. É também o nosso futuro.
É claro que isto foi uma história que me contaram. Mas, a ser verdade, não há ninguém que ponha uma providência cautelar à actuação destes cretinos?
Não é só o nosso presente. É também o nosso futuro.
É claro que isto foi uma história que me contaram. Mas, a ser verdade, não há ninguém que ponha uma providência cautelar à actuação destes cretinos?
A BARRIGA DA PRODUTIVIDADE (I)
"Finalmente parece que o hotel vai avançar!...", exclamação alegre , seguida das necessárias reticências para quem há mais de dois anos espera pelo começo do projecto.
Eu conto a história em forma de resumo:
No princípio de 2002, era uma vez um promotor que decidiu, após os respectivos estudos de viabilidade que era tempo de iniciar o processo que levaria à construção de um hotel em zona carenciada de equipamentos do tipo. Localizando-se perto de equipamentos desportivos relevantes, achou que a realização do EURO anteciparia o retorno financeiro, tendo portanto orientado tudo para que a inauguração se desse por volta de Abril/Maio de 2004.
Contactou previamente a direcção do parque natural que lhe estava próximo para escolher um terreno isento de problemas e questões ambientais. Comprou o que lhe aconselharam, com área mais que suficiente para construir o dobro da área pretendida.
O presidente da Câmara deliciou-se: o concelho triplicaria o número de camas em oferta.
Tudo rigorosamente pensado, planeado, combinado, sem jogadas por debaixo da mesa.
Até que uma aventesma entendeu que a lei não dizia que era necessário um estudo de impacto ambiental "mas já agora..."
..........
Dois anos e 34 (sim, trinta e quatro!) entidades depois, foi emitido o despacho de aprovação do Ministério. Foi-se o EURO e toda a amortização que já poderia ter sido feita se as coisas andassem a uma velocidade europeia neste país. A culpa deve ser da má formação dos portugueses...
PS - Entre as entidades obrigatoriamente a ouvir estiveram duas associações de caçadores e uma de amigos da fauna local, as quais deixaram esgotar os 30 dias de prazo sem emitir uma opinião. Sorte a deles que se podem escapar a tanta parvoíce.
Eu conto a história em forma de resumo:
No princípio de 2002, era uma vez um promotor que decidiu, após os respectivos estudos de viabilidade que era tempo de iniciar o processo que levaria à construção de um hotel em zona carenciada de equipamentos do tipo. Localizando-se perto de equipamentos desportivos relevantes, achou que a realização do EURO anteciparia o retorno financeiro, tendo portanto orientado tudo para que a inauguração se desse por volta de Abril/Maio de 2004.
Contactou previamente a direcção do parque natural que lhe estava próximo para escolher um terreno isento de problemas e questões ambientais. Comprou o que lhe aconselharam, com área mais que suficiente para construir o dobro da área pretendida.
O presidente da Câmara deliciou-se: o concelho triplicaria o número de camas em oferta.
Tudo rigorosamente pensado, planeado, combinado, sem jogadas por debaixo da mesa.
Até que uma aventesma entendeu que a lei não dizia que era necessário um estudo de impacto ambiental "mas já agora..."
..........
Dois anos e 34 (sim, trinta e quatro!) entidades depois, foi emitido o despacho de aprovação do Ministério. Foi-se o EURO e toda a amortização que já poderia ter sido feita se as coisas andassem a uma velocidade europeia neste país. A culpa deve ser da má formação dos portugueses...
PS - Entre as entidades obrigatoriamente a ouvir estiveram duas associações de caçadores e uma de amigos da fauna local, as quais deixaram esgotar os 30 dias de prazo sem emitir uma opinião. Sorte a deles que se podem escapar a tanta parvoíce.
setembro 27, 2004
ESCRITAS
Curiosamente , julguei que o mais difícil de cumprir num blog seria a disciplina para nele escrever continuada e periodicamente. Agora que este planeta se aproxima do seu primeiro ano de descobertas, concluo que a disciplina até se arranja - eu diria que esta disciplina provém de uma indisciplina nas restantes acções do meu dia a ponto de quase o desarranjar.
Difícil mesmo é combater a neurastenia que, por osmose, a apatia do país me provoca. Debaixo de todos este carnaval (político, mediático, social) que o país vive, corre uma angústia económica e moral que me aflige. As patologias vão irrompendo com cada vez maior frequência e o único remédio que parece estar a ser recomendado é o da novidade: é preciso ir rodando os actores e as peças em palco para que tudo fique, não definitivamente na mesma, mas cada vez um pouquinho pior.
Difícil mesmo é combater a neurastenia que, por osmose, a apatia do país me provoca. Debaixo de todos este carnaval (político, mediático, social) que o país vive, corre uma angústia económica e moral que me aflige. As patologias vão irrompendo com cada vez maior frequência e o único remédio que parece estar a ser recomendado é o da novidade: é preciso ir rodando os actores e as peças em palco para que tudo fique, não definitivamente na mesma, mas cada vez um pouquinho pior.
A LEI DAS RENDAS part IV
Do (pouco) a que já consegui ter acesso não há nada que retire as reticências que já manifestei em relação a algumas opções da lei das rendas:
- É injusta a discriminação de senhorios. Se o objectivo é anular as injustiças provocadas pelo congelamento das rendas, não se percebe porque hão-de continuar a ser os senhorios a subsidiar os inquilinos com mais de 65 anos (dou um exemplo: dois fogos localizados no mesmo prédio, em Lisboa, construido em 1970, alugados na mesma altura; um inquilino tem 78 anos, o outro 60; o primeiro continuará a pagar 25 contos mensais, o segundo verá a sua renda ser actualizada para preços de mercado - cerca de 150 contos - com a penalização acrescida de ter sido o próprio a efectuar obras de conservação no interior do fogo recentemente).
- Não se vislumbra a recuperação dos edifícios mais degradados, precisamente os que apresentam menores rendas e maiores médias etárias dos seus arrendatários (claramente com mais de 65 anos e portanto não abrangíveis pelas actualizações anunciadas).
- Está por esclarecer a obrigatoriedade ou não de se proceder a obras de recuperação e conservação: sabe-se que a actualização das rendas só poderá ser efectuada após as obras - mas será que as mesmas serão obrigatórias? Se o Estado se mostrou incapaz até ao presente de fazer cumprir os artigos 9º e 10º do RGEU como o conseguirá agora?
Mas nem tudo é mau. Saudo a mudança nos pedidos de despejo. O tempo que em princípio se poupará com a retirada do circuito judicial poderá ser mais importante para o aumento de interesse no arrendamento do que todas as restantes medidas anunciadas.
- É injusta a discriminação de senhorios. Se o objectivo é anular as injustiças provocadas pelo congelamento das rendas, não se percebe porque hão-de continuar a ser os senhorios a subsidiar os inquilinos com mais de 65 anos (dou um exemplo: dois fogos localizados no mesmo prédio, em Lisboa, construido em 1970, alugados na mesma altura; um inquilino tem 78 anos, o outro 60; o primeiro continuará a pagar 25 contos mensais, o segundo verá a sua renda ser actualizada para preços de mercado - cerca de 150 contos - com a penalização acrescida de ter sido o próprio a efectuar obras de conservação no interior do fogo recentemente).
- Não se vislumbra a recuperação dos edifícios mais degradados, precisamente os que apresentam menores rendas e maiores médias etárias dos seus arrendatários (claramente com mais de 65 anos e portanto não abrangíveis pelas actualizações anunciadas).
- Está por esclarecer a obrigatoriedade ou não de se proceder a obras de recuperação e conservação: sabe-se que a actualização das rendas só poderá ser efectuada após as obras - mas será que as mesmas serão obrigatórias? Se o Estado se mostrou incapaz até ao presente de fazer cumprir os artigos 9º e 10º do RGEU como o conseguirá agora?
Mas nem tudo é mau. Saudo a mudança nos pedidos de despejo. O tempo que em princípio se poupará com a retirada do circuito judicial poderá ser mais importante para o aumento de interesse no arrendamento do que todas as restantes medidas anunciadas.
setembro 24, 2004
COISA FEIA, A INVEJA
Começa a insinuar-se reptilmente nesta sociedade, destilado pelas insinuações e meias-verdades que interessam ao populismo político de que tanto direita como esquerda se servem em profusão nos tempos que correm, um olhar de ressentimento perante o "outro" que tem mais recursos ou melhor vida.
Há muito da teoria maniqueista que inspirou palavras de ordem como a célebre e imortal "os ricos que paguem a crise!" nos discursos do Governo, especialmente no social-cristão Bagão Félix. Palavras aqui e ali, propagadas por uma comunicação social ávida de antagonismos, por políticos ambicionando os seus quinze minutos de fama, por comentadores generalizantes e por uma esquerda ávida de reerguer bandeiras antigas.
Não aparecendo por acaso, temas como as taxas diferenciadas para a saúde ou para os transportes públicos ou, ainda mais actuais, comparações entre a eficácia das escolas pagas e o encerramento das públicas, consolidam a impressão na classe tola (que é quase toda a sociedade portuguesa) da existência de uma classe priveligiada - "os outros" - que vive à sua conta, quer através de expedientes trapaceiros que iludam o cumprimento das suas responsabilidades (a fuga ao fisco, por exemplo), quer através da exploração, em proveito próprio, das escapatórias da lei (como é o caso do alongamento dos processos judiciais providenciado por advogados experientes pagos a peso de ouro). Desta constatação à identificação errada dos personagens através do que é visível e não do que é real vai um pequeno passo que já começou a ser dado e que não tarda muito a transformar-se num trambulhão social de consequências nefastas.
Dou um exemplo: tornou-se habitual apontar os "profissionais liberais" como os mais importantes actores da crónica fuga ao fisco que se vive neste país. Profissionais cuja actividade os inibe de emitir recibo e como tal serem taxados em sede de IVA e IRS. A associação é imediata: médicos, advogados, engenheiros, economistas ou arquitectos. Se considerarmos que as despesas médicas são dedutíveis e que a maior parte dos clientes dos restantes são empresas - as quais necessitam de recibos para justificar gastos - verificamos que a maior parte destes profissionais declara todos os seus ganhos. Quanto às deduções, serão a contrapartida natural a quem tem uma actividade de risco - hoje há trabalho, amanhã pode não haver (quem diz trabalho, diz rendimentos) - e que optou por criar riqueza por conta própria e não na dependência de terceiros. Da minha experiência de vida posso concluir que a fuga se verifica muito mais profundamente noutros profissionais que estão mais perto do que tradicionalmente se considera "mundo operário" do que da "liberalidade" real - canalizadores, electricistas, taxistas, carpinteiros - ou que fazem parte do também "simpático" pequeno comércio - restauradores, por exemplo. No entanto é aos licenciados que a carapuça se enfia e é a eles que se cola.
Não serão os profissionais liberais os grandes actores da desgraça. São antes as grandes empresas, bancos, seguradoras, grupos económicos - mas estas limitam-se a aproveitar as benesses da lei e os acordos efectuados na sombra dos gabinetes. E são também - e quanto a mim muito mais - todos os que se entretêm a desbaratar os recursos que ainda assim o Estado consegue angariar.
Muito mais do que um profissional a reduzir com artifícios a taxa a pagar pelo seu trabalho de muitas horas choca-me a calma com que um funcionário camarário cumpre o seu horário diário entre as 10-e-qualquer-coisa e as 4-e-pouco com intervalos pelo meio e pouca paciência para despachar o trabalho num tempo inferior ao estipulado muitos anos atrás no tempo das mangas de alpaca.
Há muito da teoria maniqueista que inspirou palavras de ordem como a célebre e imortal "os ricos que paguem a crise!" nos discursos do Governo, especialmente no social-cristão Bagão Félix. Palavras aqui e ali, propagadas por uma comunicação social ávida de antagonismos, por políticos ambicionando os seus quinze minutos de fama, por comentadores generalizantes e por uma esquerda ávida de reerguer bandeiras antigas.
Não aparecendo por acaso, temas como as taxas diferenciadas para a saúde ou para os transportes públicos ou, ainda mais actuais, comparações entre a eficácia das escolas pagas e o encerramento das públicas, consolidam a impressão na classe tola (que é quase toda a sociedade portuguesa) da existência de uma classe priveligiada - "os outros" - que vive à sua conta, quer através de expedientes trapaceiros que iludam o cumprimento das suas responsabilidades (a fuga ao fisco, por exemplo), quer através da exploração, em proveito próprio, das escapatórias da lei (como é o caso do alongamento dos processos judiciais providenciado por advogados experientes pagos a peso de ouro). Desta constatação à identificação errada dos personagens através do que é visível e não do que é real vai um pequeno passo que já começou a ser dado e que não tarda muito a transformar-se num trambulhão social de consequências nefastas.
Dou um exemplo: tornou-se habitual apontar os "profissionais liberais" como os mais importantes actores da crónica fuga ao fisco que se vive neste país. Profissionais cuja actividade os inibe de emitir recibo e como tal serem taxados em sede de IVA e IRS. A associação é imediata: médicos, advogados, engenheiros, economistas ou arquitectos. Se considerarmos que as despesas médicas são dedutíveis e que a maior parte dos clientes dos restantes são empresas - as quais necessitam de recibos para justificar gastos - verificamos que a maior parte destes profissionais declara todos os seus ganhos. Quanto às deduções, serão a contrapartida natural a quem tem uma actividade de risco - hoje há trabalho, amanhã pode não haver (quem diz trabalho, diz rendimentos) - e que optou por criar riqueza por conta própria e não na dependência de terceiros. Da minha experiência de vida posso concluir que a fuga se verifica muito mais profundamente noutros profissionais que estão mais perto do que tradicionalmente se considera "mundo operário" do que da "liberalidade" real - canalizadores, electricistas, taxistas, carpinteiros - ou que fazem parte do também "simpático" pequeno comércio - restauradores, por exemplo. No entanto é aos licenciados que a carapuça se enfia e é a eles que se cola.
Não serão os profissionais liberais os grandes actores da desgraça. São antes as grandes empresas, bancos, seguradoras, grupos económicos - mas estas limitam-se a aproveitar as benesses da lei e os acordos efectuados na sombra dos gabinetes. E são também - e quanto a mim muito mais - todos os que se entretêm a desbaratar os recursos que ainda assim o Estado consegue angariar.
Muito mais do que um profissional a reduzir com artifícios a taxa a pagar pelo seu trabalho de muitas horas choca-me a calma com que um funcionário camarário cumpre o seu horário diário entre as 10-e-qualquer-coisa e as 4-e-pouco com intervalos pelo meio e pouca paciência para despachar o trabalho num tempo inferior ao estipulado muitos anos atrás no tempo das mangas de alpaca.
BLUE HILL
Perto de Nova Iorque, um restaurante em alta: Blue Hill at Stone Barns.
Hoje em dia (hoje em dia...!), o marketing vale tanto como o produto e parte da estratégia de promoção passa pela net. À falta do local, a visita da sua webpage é uma viagem interessante de onde se poderão retirar alguns ensinamentos.
A Food Mission and Philosophy que adopta é uma clara influência de Covey mas um indicador de um novo modo de "vender comida" que seria interressante copiar para o nosso torrão:
Blue Hill at Stone Barns is a platform, an exhibit, a classroom, a conservatory, a laboratory, and a garden. The restaurant will reflect the spirit of the farm, the terroir, and the market. The kitchen will express the humanity and the fervor of the educators, preservationists, farmers, cooks, and servers who learn and work at the Center.The road ingredients travel from harvest to the dinner table becomes a part of their "character". Simplifying this path changes the taste, often enhancing it. Actively reconnecting the farm and the table creates a distinct consciousness. Through our choices of food and ingredients, we - chefs, waiters, diners - are inescapably active participants in not just eating, but in agriculture. This awareness adds to the pleasure of eating.Ultimately, that is the true mission of Blue Hill at Stone Barns: to highlight the pleasure of eating, the delight that comes from valuing the good health of the garden, because you will see our gardens - the sight of good pastures, because you will see the pasture and taste their essence in your food. "Fast Food" at Blue Hill at Stone Barns means from the farm to the kitchen without obstacle or delay.
Hoje em dia (hoje em dia...!), o marketing vale tanto como o produto e parte da estratégia de promoção passa pela net. À falta do local, a visita da sua webpage é uma viagem interessante de onde se poderão retirar alguns ensinamentos.
A Food Mission and Philosophy que adopta é uma clara influência de Covey mas um indicador de um novo modo de "vender comida" que seria interressante copiar para o nosso torrão:
Blue Hill at Stone Barns is a platform, an exhibit, a classroom, a conservatory, a laboratory, and a garden. The restaurant will reflect the spirit of the farm, the terroir, and the market. The kitchen will express the humanity and the fervor of the educators, preservationists, farmers, cooks, and servers who learn and work at the Center.The road ingredients travel from harvest to the dinner table becomes a part of their "character". Simplifying this path changes the taste, often enhancing it. Actively reconnecting the farm and the table creates a distinct consciousness. Through our choices of food and ingredients, we - chefs, waiters, diners - are inescapably active participants in not just eating, but in agriculture. This awareness adds to the pleasure of eating.Ultimately, that is the true mission of Blue Hill at Stone Barns: to highlight the pleasure of eating, the delight that comes from valuing the good health of the garden, because you will see our gardens - the sight of good pastures, because you will see the pasture and taste their essence in your food. "Fast Food" at Blue Hill at Stone Barns means from the farm to the kitchen without obstacle or delay.
AINDA A NOVA LEI DAS RENDAS
Para além das excelentes oportunidades de negócio que se abrem com a criação dos "Certificados de Habitabilidade" os quais implicam vistorias, obras de reabilitação, eventualmente projectos(?), fica uma questão por responder que me parece fundamental:
- O que vai acontecer aos fogos que não ficam abrangidos pelo aumento das rendas, isto é, os que têm por locatários reformados e pensionistas e que, como tal, não precisarão do certificado? Vão continuar sem reabilitação?
Considerando que, dos 260 mil fogos alugados, 170 mil se incluem neste grupo, isso implica que cerca de 65% do total - precisamente os mais antigos e mais degradados - terão toda a probabilidade de continuar o seu caminho para a demolição.
Para uma lei virtuosa que se anuncia como panaceia para todos os males da habitação, parece um começo demasiado negativo.
- O que vai acontecer aos fogos que não ficam abrangidos pelo aumento das rendas, isto é, os que têm por locatários reformados e pensionistas e que, como tal, não precisarão do certificado? Vão continuar sem reabilitação?
Considerando que, dos 260 mil fogos alugados, 170 mil se incluem neste grupo, isso implica que cerca de 65% do total - precisamente os mais antigos e mais degradados - terão toda a probabilidade de continuar o seu caminho para a demolição.
Para uma lei virtuosa que se anuncia como panaceia para todos os males da habitação, parece um começo demasiado negativo.
PORTUGUESES DE SEGUNDA
A tomar como credíveis as notícias vindas nos jornais, Portugal apresta-se a retomar uma tradição abandonada no 25 de Abril: a classificação oficial dos portugueses em "de primeira" e "de segunda".
Ou de que outro modo se pode encarar a medida que se anuncia inscrita nas nova lei das rendas de impedir os senhorios de locatários com mais de 65 anos de actualizar a renda? Assim, enquanto aos portugueses de primeira estarão reservados os direitos e deveres do mercado livre, aos restantes apenas restará o dever de continuar a subsidiar a inépcia do Estado.
Concordo com a manutenção dos noveis actuais de rendas para reformados e pensionistas; não concordo que sejam os senhorios os prejudicados só porque tiveram o azar de alugar os seus fogos antes de tempo.
Ou de que outro modo se pode encarar a medida que se anuncia inscrita nas nova lei das rendas de impedir os senhorios de locatários com mais de 65 anos de actualizar a renda? Assim, enquanto aos portugueses de primeira estarão reservados os direitos e deveres do mercado livre, aos restantes apenas restará o dever de continuar a subsidiar a inépcia do Estado.
Concordo com a manutenção dos noveis actuais de rendas para reformados e pensionistas; não concordo que sejam os senhorios os prejudicados só porque tiveram o azar de alugar os seus fogos antes de tempo.
setembro 23, 2004
AI, AI, AI...
Acabo de ouvir as declarações do presidente da CML a confirmar a aquisição do Pavilhão de Portugal pela autarquia. Das duas uma: ou o homem teve alguma dificuldade em explicar o brilhantismo da solução ou a transação não passa de mais um frete político a uma empresa pública em dificuldades económicas notórias as quais nenhum Governo teve coragem em assumir como inevitáveis na grande operação de reabilitação da zona oriental da cidade.
Uma coisa seria fazer uma dotação orçamental para liquidação do saldo negativo da ParqueExpo - não me escandalizaria uma vez que, como provado, tão grande operação não se pagaria a si mesma e era consensual o interesse nacional da mesma.
Outra, muito diferente e muito mais gravosa, é a obtenção de receitas por todos os meios, desrespeitando compromissos assumidos com moradores, densificando exageradamente uma zona vendida como de nível superior, terciarizando, descaracterizando o que foi a experiência urbanística mais marcante em Lisboa desde as intervenções do Eng. Duarte Pacheco.
E o que disse o Eng. Carmona Rodrigues?
- Que a compra do Pavilhão de Portugal se inseria numa acção mais vasta de regularização da dívidas da CML à Parque EXPO (?). Então a CML tem um défice superior a 80 milhões de euros, deve dinheiro à EXPO e ainda se vai endividar mais?
- Que há outras formas de pagamentos que não em dinheiro, antes em espécie, designadamente terrenos. Ou seja, abre caminho ao alastramento da densidade que já se verifica na zona da EXPO às áreas circundantes.
Como se vê, uma maneira fantástica de gerir maravilhosamente a cidade.
Uma coisa seria fazer uma dotação orçamental para liquidação do saldo negativo da ParqueExpo - não me escandalizaria uma vez que, como provado, tão grande operação não se pagaria a si mesma e era consensual o interesse nacional da mesma.
Outra, muito diferente e muito mais gravosa, é a obtenção de receitas por todos os meios, desrespeitando compromissos assumidos com moradores, densificando exageradamente uma zona vendida como de nível superior, terciarizando, descaracterizando o que foi a experiência urbanística mais marcante em Lisboa desde as intervenções do Eng. Duarte Pacheco.
E o que disse o Eng. Carmona Rodrigues?
- Que a compra do Pavilhão de Portugal se inseria numa acção mais vasta de regularização da dívidas da CML à Parque EXPO (?). Então a CML tem um défice superior a 80 milhões de euros, deve dinheiro à EXPO e ainda se vai endividar mais?
- Que há outras formas de pagamentos que não em dinheiro, antes em espécie, designadamente terrenos. Ou seja, abre caminho ao alastramento da densidade que já se verifica na zona da EXPO às áreas circundantes.
Como se vê, uma maneira fantástica de gerir maravilhosamente a cidade.
EM BRAGA HÁ PEDRADAS
Nunca pensei que a situação do país me afetasse tanto. Habituei-me a uma relação de alguma distância com ele, as dificuldades, a pequenez da nossa vida política impressionavam-me mas não a ponto de me alterar a disposição, os humores, a auto-estima.
Agora é diferente. A minha apreensão não reside no presente mas nas perspectivas do futuro. Acho que não há saída. Acho que, para além da nossa incapacidade de construir uma economia equilibrada, a nova ordem económica mundial que se configura a médio prazo com a ascensão da China e da Índia será catastrófica para a Europa - e, por maioria de razão, muito mais para Portugal.
Não temos futuro de jeito. Não somos bons para o construir e, mesmo que o tentássemos, o cenário exterior é totalmente opressivo para o conseguirmos.
Entretanto, os sintomas vão correndo por aí. Mongos sem mais nada para fazer ou para pensar ocupam o tédio à pedrada a outros que tais. Aí estão os estádios "familiares" do Euro a perder o verniz com que foram embrulhados na propaganda oficial. Bom sítio para levar os filhos a aprender o mundo cão em que vivem. Também o estádio está numa antiga pedreira. Queriam o quê...
Agora é diferente. A minha apreensão não reside no presente mas nas perspectivas do futuro. Acho que não há saída. Acho que, para além da nossa incapacidade de construir uma economia equilibrada, a nova ordem económica mundial que se configura a médio prazo com a ascensão da China e da Índia será catastrófica para a Europa - e, por maioria de razão, muito mais para Portugal.
Não temos futuro de jeito. Não somos bons para o construir e, mesmo que o tentássemos, o cenário exterior é totalmente opressivo para o conseguirmos.
Entretanto, os sintomas vão correndo por aí. Mongos sem mais nada para fazer ou para pensar ocupam o tédio à pedrada a outros que tais. Aí estão os estádios "familiares" do Euro a perder o verniz com que foram embrulhados na propaganda oficial. Bom sítio para levar os filhos a aprender o mundo cão em que vivem. Também o estádio está numa antiga pedreira. Queriam o quê...
setembro 21, 2004
CAM, LUNCHTIME
As incríveis salas vazias de visitantes dos museus portugueses. Os meus passos a ecoarem no silêncio, num sincromismo quase perfeito com os passos do segurança que me segue desocupado. Uma curta-metragem da Ana Hatherly, fantástica porque de 75, o ano de todos. Gosto (já não sei se é gosto se é hábito) do encadear dos fragmentos de olhares, catazes, pixagens, a voz do Ot(h)elo em fundo, o povo, as palavras de ordem. Tempo sem tempo.
A Mãe da Paula Rego (como tudo o que já vi da Paula Rego) é de uma preversidade inquietante. Lembro-me da imagem quase cliché de uma cebola, dos layers e layers (sou snob ao utilizar o termo inglês?) que, sucessivos, se vão descobrindo.
Interesso-me pelos cadernos de esboços do Ruy Leitão que estão em exposição temporária. Hoje em dia, interesso-me por todos os cadernos de apontamentos que encontro. A história da vida da Menez é uma tragédia. Será que os artistas precisam de uma lâmina mais afiada para melhor destilarem o seu génio?
O CAM é de uma frieza exagerada. O tempo passa pelas suas paredes e transforma o despojamento original em desencanto.
A Mãe da Paula Rego (como tudo o que já vi da Paula Rego) é de uma preversidade inquietante. Lembro-me da imagem quase cliché de uma cebola, dos layers e layers (sou snob ao utilizar o termo inglês?) que, sucessivos, se vão descobrindo.
Interesso-me pelos cadernos de esboços do Ruy Leitão que estão em exposição temporária. Hoje em dia, interesso-me por todos os cadernos de apontamentos que encontro. A história da vida da Menez é uma tragédia. Será que os artistas precisam de uma lâmina mais afiada para melhor destilarem o seu génio?
O CAM é de uma frieza exagerada. O tempo passa pelas suas paredes e transforma o despojamento original em desencanto.
setembro 20, 2004
setembro 19, 2004
REFORMAS
Ai como este país seria o melhor do mundo se cada incompetente tivesse direito, após o seu despedimento, a ser reformado com 90% do seu ordenado...
AJUDEM-ME QUE EU NÃO PERCEBO!
(Este post parece mais um detector de spin, com licença do Paulo Gorjão)
Escreve um ignoto escriba do Jornal da Noite da TVI: "As rendas vão baixar com a nova lei das rendas".
Pronto. Lá estou eu aos pulos e aos berros com o ecran a exigir explicações: "Como? COMO? COOOOMO????? " Ninguém me explica. Aliás, a peça é toda uma falácia. Os especialistas (é apenas um) que, supostamente, sustentam a frase apenas dizem que, se houver mais casas no mercado, as rendas, por força da concorrência, tenderão a baixar. Mas porque é que haverá mais casas no mercado de arrendamento? Porque há casas reabilitadas? E porque é que há casas reabilitadas? Porque há mais mercado de arrendamento? E porque é que há mais mercado de arrendamento? Porque há mais pessoas a arrendar???
Juro que não percebo onde está o truque.
Escreve um ignoto escriba do Jornal da Noite da TVI: "As rendas vão baixar com a nova lei das rendas".
Pronto. Lá estou eu aos pulos e aos berros com o ecran a exigir explicações: "Como? COMO? COOOOMO????? " Ninguém me explica. Aliás, a peça é toda uma falácia. Os especialistas (é apenas um) que, supostamente, sustentam a frase apenas dizem que, se houver mais casas no mercado, as rendas, por força da concorrência, tenderão a baixar. Mas porque é que haverá mais casas no mercado de arrendamento? Porque há casas reabilitadas? E porque é que há casas reabilitadas? Porque há mais mercado de arrendamento? E porque é que há mais mercado de arrendamento? Porque há mais pessoas a arrendar???
Juro que não percebo onde está o truque.
NOVIDADES DA MPB
Para quem, como nós, pertence a um rectângulo habitado por míseros 10 milhões de consumidores com falta de massa crítica para criar (e sustentar) grande diversidade na produção cultural, é sempre grande motivo de (algum) assombro e (muita) contentação visitar várias cidades de um país GRANDE e verificar quão diferentes podem ser as ofertas, por exemplo, musicais.
As discotecas de Pernambuco abarrotam de experiências de fusão dos ritmos nordestinos com a electricidade mais esgalhada do rock mais duro (e todas radicalmente originais e de caminhos diversos).
As da Bahia da criação, re-criação e re-re-criação da mistura afro-euro-ameríndia que a constituiu.
As do Rio, para além do samba e suas variações, da MPB mais "mainstream", abarrotam de ensaios mais discretos, partindo do choro ou de experiências mais intimistas de compositores de 3ª geração, na senda das experiências iniciais dos seus antecessores.
Uma das editoras locais mais interessantes que por lá se encontram é a Biscoito Fino. Sem preocupações de grandes hits - logo sem as bombásticas promoções ou produções - tem produzido muito boa coisa a maior parte da qual, infelizmente, tarda em fazer-se ouvir por aqui.
Ainda com a frescura gélida dos porões do avião que os trouxe, chegaram-me algumas das suas edições.
El Negro del Blanco é um deles. Dois instrumentos - violão e clarinete - e uma diversidade de temas originários da América Latina - desde Baden Powell a Violeta Parra, passando por Piazolla.
“A visão que o disco propõe é reunir a influência negra na música do continente latino-americano à vertente ibérica do colonizador. Daí, el negro Del blanco e el blanco Del negro”, diz um dos seus autores aqui, no site da editora.
Alex, com o seu entusiasmo habitual, chamar-lhe-à genial. Eu chamo a atenção para ele e digo, muito bom!
As discotecas de Pernambuco abarrotam de experiências de fusão dos ritmos nordestinos com a electricidade mais esgalhada do rock mais duro (e todas radicalmente originais e de caminhos diversos).
As da Bahia da criação, re-criação e re-re-criação da mistura afro-euro-ameríndia que a constituiu.
As do Rio, para além do samba e suas variações, da MPB mais "mainstream", abarrotam de ensaios mais discretos, partindo do choro ou de experiências mais intimistas de compositores de 3ª geração, na senda das experiências iniciais dos seus antecessores.
Uma das editoras locais mais interessantes que por lá se encontram é a Biscoito Fino. Sem preocupações de grandes hits - logo sem as bombásticas promoções ou produções - tem produzido muito boa coisa a maior parte da qual, infelizmente, tarda em fazer-se ouvir por aqui.
Ainda com a frescura gélida dos porões do avião que os trouxe, chegaram-me algumas das suas edições.
El Negro del Blanco é um deles. Dois instrumentos - violão e clarinete - e uma diversidade de temas originários da América Latina - desde Baden Powell a Violeta Parra, passando por Piazolla.
“A visão que o disco propõe é reunir a influência negra na música do continente latino-americano à vertente ibérica do colonizador. Daí, el negro Del blanco e el blanco Del negro”, diz um dos seus autores aqui, no site da editora.
Alex, com o seu entusiasmo habitual, chamar-lhe-à genial. Eu chamo a atenção para ele e digo, muito bom!
setembro 18, 2004
JE RENTRE À LA MAISON
Presumo que a todos é difícil esquecer as impressões de uma primeira experiência. A mim, custou-me a apagar a propositada teatralidade do "Amor de Perdição", o tom artificioso das falas, a contradição aparente que é tratar uma câmara - que é dinâmica por natureza - de um modo tão estático. Os - pouquíssimos! - filmes que depois vi do Manuel de Oliveira pareceram confirmar essa impressão primeira de actores sorumbáticos, de falas terrivelmente artificiais. A reacção alérgica que em mim - espectador habituado a ver o cinema como um fim (contador de uma história, de uma experiência, de uma visão do mundo) e não como um meio (transmissor de um texto)- estas continuavam a causar, obliterava qualquer tentativa de deixar a obra falar comigo.
Em boa-hora o Público fez acompanhar a sua edição de Sábado passado de 3 DVDs do realizar a um preço simpático para pelintras recentes (a crise, a crise...!) como eu.
Vi o "Je Rentre à la Maison" há dois dias e ainda me mantenho no meu estado levitário, impressionadíssimo com as reacções que me causou: de admiração, de identificação, de emoção pela profundidade do olhar, de comoção pela percepção do estado de absoluto esgotamento a que o personagem chega.
Aqui as palavras começam a faltar. Talvez tudo tenha uma hora para acontecer e tudo tenho um tempo próprio para ser vivido, disfrutado, percebido. Talvez não tivesse ainda vivido o suficiente, sofrido o suficiente, sentido o suficiente para perceber esta obra antes. Talvez sim ou talvez não, talvez tudo ou talvez nada.
Talvez fosse a enormíssima intepretação do Michel Piccoli a desanuviar a minha retracção perante actores declamatórios e a disfrutar o filme sem preconceitos.
E se não bastasse o maravilhar-me que o filme me fez, ainda, como extra, as palavras complementares de Manuel de Oliveira que vêm como extra complementaram o meu estado... desalinhado. A extrapolação personagem-sociedade actual / cansaço-desorientação que faz, é uma lição.
Em boa-hora o Público fez acompanhar a sua edição de Sábado passado de 3 DVDs do realizar a um preço simpático para pelintras recentes (a crise, a crise...!) como eu.
Vi o "Je Rentre à la Maison" há dois dias e ainda me mantenho no meu estado levitário, impressionadíssimo com as reacções que me causou: de admiração, de identificação, de emoção pela profundidade do olhar, de comoção pela percepção do estado de absoluto esgotamento a que o personagem chega.
Aqui as palavras começam a faltar. Talvez tudo tenha uma hora para acontecer e tudo tenho um tempo próprio para ser vivido, disfrutado, percebido. Talvez não tivesse ainda vivido o suficiente, sofrido o suficiente, sentido o suficiente para perceber esta obra antes. Talvez sim ou talvez não, talvez tudo ou talvez nada.
Talvez fosse a enormíssima intepretação do Michel Piccoli a desanuviar a minha retracção perante actores declamatórios e a disfrutar o filme sem preconceitos.
E se não bastasse o maravilhar-me que o filme me fez, ainda, como extra, as palavras complementares de Manuel de Oliveira que vêm como extra complementaram o meu estado... desalinhado. A extrapolação personagem-sociedade actual / cansaço-desorientação que faz, é uma lição.
setembro 16, 2004
VACATURAS (II)
Segundo dados oficiais, há cerca de 550 mil fogos vagos no país. Destes, 170 mil estão no mercado de venda ou aluguer, os restantes (380 mil!), nem uma coisa nem outra - limitam-se a estar abandonados.
Hipótese 1: A lei das rendas revela-se eficaz em reanimar o mercado do arrendamento - principal objectivo da sua aprovação - e a maioria dos fogos agora vagos é arrendada. O que acontece com o mercado da construção, o qual representa cerca de 30% do PIB? Se continua no mesmo ritmo vai produzir para não vender. Se pára, onde vão ser absorvidos os excedentes de mão-de-obra e como vão cobrir as autarquias as receitas em falta?
Hipótese 2: O mercado de arrendamento continua estagnado (porque não é a actualização de rendas antigas por si só que vai afectar os valores das novas rendas) e a única coisa que a nova lei vai realmente conseguir é penalizar, mais uma vez, a classe média da faixa etária entre os 45 e os 65 anos, aquela que se casou antes da grande explosão da compra de habitação própria.
Espero que o Governo tenha analisado todas as vertentes deste problema em profundidade.
Hipótese 1: A lei das rendas revela-se eficaz em reanimar o mercado do arrendamento - principal objectivo da sua aprovação - e a maioria dos fogos agora vagos é arrendada. O que acontece com o mercado da construção, o qual representa cerca de 30% do PIB? Se continua no mesmo ritmo vai produzir para não vender. Se pára, onde vão ser absorvidos os excedentes de mão-de-obra e como vão cobrir as autarquias as receitas em falta?
Hipótese 2: O mercado de arrendamento continua estagnado (porque não é a actualização de rendas antigas por si só que vai afectar os valores das novas rendas) e a única coisa que a nova lei vai realmente conseguir é penalizar, mais uma vez, a classe média da faixa etária entre os 45 e os 65 anos, aquela que se casou antes da grande explosão da compra de habitação própria.
Espero que o Governo tenha analisado todas as vertentes deste problema em profundidade.
VACATURAS (I)
Segundo dados oficiais, há cerca de 550 mil fogos vagos no país. Destes, 170 mil estão no mercado de venda ou aluguer, os restantes (380 mil!), nem uma coisa nem outra - limitam-se a estar abandonados.
Um destes últimos, é o apartamento onde a minha avó viveu até à sua morte há nove anos. O senhorio não se mostrou disponível para o vender, nem aos herdeiros nem a qualquer interessado. Não se mostrou igualmente disponível para o arrendar, emprestar, oferecer. Não se mostrou disponível para lhe dar uso.
É uma prerrogativa dos proprietários.
Só que o proprietário é o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, ou seja, a Segurança Social, ou seja o Estado. Seguindo a sábia interpretação do senhor ministro das Finanças, de que o orçamento do Estado é como o orçamento das famílias, não seria melhor pôr os bens a render para pagar as dívidas? Na minha família é o que se costuma fazer.
Um destes últimos, é o apartamento onde a minha avó viveu até à sua morte há nove anos. O senhorio não se mostrou disponível para o vender, nem aos herdeiros nem a qualquer interessado. Não se mostrou igualmente disponível para o arrendar, emprestar, oferecer. Não se mostrou disponível para lhe dar uso.
É uma prerrogativa dos proprietários.
Só que o proprietário é o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, ou seja, a Segurança Social, ou seja o Estado. Seguindo a sábia interpretação do senhor ministro das Finanças, de que o orçamento do Estado é como o orçamento das famílias, não seria melhor pôr os bens a render para pagar as dívidas? Na minha família é o que se costuma fazer.
setembro 15, 2004
ALTO E PAIRA O BAILE!
Escrevia eu há uns dias acerca da intromissão dispendiosa do Museu da Cidade nas obras das zonas históricas que a lei prevê. Nem de propósito: o Expresso anunciava no fim-de-semana passado o embargo das obras do parque de estacionamento do Largo das Portas do Sol por, alegadamente, não se ter submetido um projecto de alterações à análise das autoridades competentes.
Este projecto está previsto no "Plano de Urbanização de Alfama" aprovado, se não me falha a memória, em 1996. A falta de verbas e a velocidade de decisão da autarquia levaram a que só agora a empreitada tenha sido lançada e adjudicada - para imediatamente ter sido embargada, diria eu, "sine die".
Não se sabe quanto tempo irá durar a campanha arqueológica. Sabe-se, com toda a certeza que irá ser muito cara.
E aos comerciantes - os poucos que ainda há - só lhes resta confinarem-se aos seus clientes do bairro, já que aos forasteiros automobilizados não lhes resta outra alternativa que a partida para outros bairros já que, com a proibição de estacionamento na freguesia do Castelo e com a extinção - para instalação do estaleiro - dos poucos lugares de estacionamento que havia no largo, não há sítio para pararem. Economia de subsistência, tão longe da necessidade de "auto-sustentação" do bairro, buzzword que tantas vezes ouvi vinda da boca dos responsáveis...
Este projecto está previsto no "Plano de Urbanização de Alfama" aprovado, se não me falha a memória, em 1996. A falta de verbas e a velocidade de decisão da autarquia levaram a que só agora a empreitada tenha sido lançada e adjudicada - para imediatamente ter sido embargada, diria eu, "sine die".
Não se sabe quanto tempo irá durar a campanha arqueológica. Sabe-se, com toda a certeza que irá ser muito cara.
E aos comerciantes - os poucos que ainda há - só lhes resta confinarem-se aos seus clientes do bairro, já que aos forasteiros automobilizados não lhes resta outra alternativa que a partida para outros bairros já que, com a proibição de estacionamento na freguesia do Castelo e com a extinção - para instalação do estaleiro - dos poucos lugares de estacionamento que havia no largo, não há sítio para pararem. Economia de subsistência, tão longe da necessidade de "auto-sustentação" do bairro, buzzword que tantas vezes ouvi vinda da boca dos responsáveis...
setembro 14, 2004
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (IX) - MUDANÇAS
Com a criação de uma Direcção Municipal específica (DMRU), oficializou-se uma consciência de preservação dos edifícios mais antigos, da traça e da "ambiência" (palavra perigosa" dos bairros históricos. Como sempre, as novas atitudes são de disseminação lenta, tanto no interior das instituições como nos aparentes benificiários da mesma.
A estes dois edifícios une-os a mesma necessidade ou a mesma cupidez:
O que difere é apenas o tempo. Um clandestino foi feito antes, o outro depois, do nascimento da DMRU.
A estes dois edifícios une-os a mesma necessidade ou a mesma cupidez:
O que difere é apenas o tempo. Um clandestino foi feito antes, o outro depois, do nascimento da DMRU.
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (VIII) - RECRIA
Penso já ter escrito por aqui que o RECRIA foi criado com o pensamento nos edifícios oitocentistas que pululam em Lisboa, ignorando que o estado de profunda degradação dos edifícios dos chamados Bairros Históricos exige intervenções muito mais profundas que a superficial mudança de cobertura e revestimento das paredes exteriores, de vãos e, eventualmente de infra-estruturas eléctricas e de águas e esgotos.
Com a inocente boa-vontade que a caracterizou no início, a Direcção Municipal de Reabilitação Urbana patrocionou muitas intervenções com o apoio do RECRIA que seguiam, em passos latos, o que deveria ser uma intervenção num edifício oitocentista das avenidas novas, com patologias medianas e uma qualidade de construção razoável.
O resultado previsível pode-se ver, por exemplo, neste edifício
intervencionado há cerca de 10 anos.
Não causa assim admiração a fuga para os bairros novos da periferia (igualmente mal construídos mas com um período de degradação mais longo) ou para os caixotes deprimentes dos subúrbios.
Com a inocente boa-vontade que a caracterizou no início, a Direcção Municipal de Reabilitação Urbana patrocionou muitas intervenções com o apoio do RECRIA que seguiam, em passos latos, o que deveria ser uma intervenção num edifício oitocentista das avenidas novas, com patologias medianas e uma qualidade de construção razoável.
O resultado previsível pode-se ver, por exemplo, neste edifício
intervencionado há cerca de 10 anos.
Não causa assim admiração a fuga para os bairros novos da periferia (igualmente mal construídos mas com um período de degradação mais longo) ou para os caixotes deprimentes dos subúrbios.
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (VII) - SEGREDOS
Todas as políticas aplicadas pela primeira vez são passíveis de falhas, estão abertas a enganos, são caminho possível para erros. Não serão eles o aspecto mais gravoso da actuação pública, desde que identificados e corrigidos a tempo. Gravoso é não se criarem mecanismos para a sua identificação e mortal (principalmente para o objecto dessa política) é não se discutirem as suas causas e consequências e as correcções possíveis.
Da actuação da Reabilitação Urbana no consulado da coligação PS/PCP muito ficou por perguntar. Não houve disponibilidade ideológica para tal (o terreno era um feudo quase exclusivo do PC) e, provavelmente, capacidade técnica ou intelectual suficiente para o fazer com competência.
Uma das primeiras experiências de intervenção profunda em edifícios com pretensa qualidade histórica foi efectuada neste edifício situado na área de intervenção do Gabinete Local de Alfama e Colina do Castelo.
Foi um segredo bem guardado o valor final da empreitada que permitiria apurar o custo da intervenção por metro quadrado, ainda o melhor monitor da relação investimento/significado histórico que eu conheço. Cabe dizer que áreas como a que o edifício disponibiliza seriam liminarmente recusadas por qualquer candidato a habitante de fogo social e que, passados mais ou menos 10 anos, são notórias e múltiplas as patologias visíveis.
Portanto: 600 a 700 contos por metro quadrado de intervenção, uma péssima qualidade de habitação e uma obra que apenas disfarçou os problemas da construção. Não mereceria isto mais do que o silêncio?
Da actuação da Reabilitação Urbana no consulado da coligação PS/PCP muito ficou por perguntar. Não houve disponibilidade ideológica para tal (o terreno era um feudo quase exclusivo do PC) e, provavelmente, capacidade técnica ou intelectual suficiente para o fazer com competência.
Uma das primeiras experiências de intervenção profunda em edifícios com pretensa qualidade histórica foi efectuada neste edifício situado na área de intervenção do Gabinete Local de Alfama e Colina do Castelo.
Foi um segredo bem guardado o valor final da empreitada que permitiria apurar o custo da intervenção por metro quadrado, ainda o melhor monitor da relação investimento/significado histórico que eu conheço. Cabe dizer que áreas como a que o edifício disponibiliza seriam liminarmente recusadas por qualquer candidato a habitante de fogo social e que, passados mais ou menos 10 anos, são notórias e múltiplas as patologias visíveis.
Portanto: 600 a 700 contos por metro quadrado de intervenção, uma péssima qualidade de habitação e uma obra que apenas disfarçou os problemas da construção. Não mereceria isto mais do que o silêncio?
FINANÇAS
NOTAVELmente abjecto.
Não me lembro de alguma vez ter concordado com as palavras do Partido Comunista mas hoje à noite a sua caracterização da comunicação ao país do ministro das finanças não podia ser mais certeira: foi uma conversa em família medíocre, com um insuportável discurso de mestre-escola.
Sem alma.
Sem calor.
Pequenino.
Ideologicamente, o rato está a comer a montanha.
Não me lembro de alguma vez ter concordado com as palavras do Partido Comunista mas hoje à noite a sua caracterização da comunicação ao país do ministro das finanças não podia ser mais certeira: foi uma conversa em família medíocre, com um insuportável discurso de mestre-escola.
Sem alma.
Sem calor.
Pequenino.
Ideologicamente, o rato está a comer a montanha.
setembro 12, 2004
RITUAIS
A propósito do ritual maçónico efectuado na Basílica da Estrela em homenagem a Nunes de Almeida:
- Não seria pedagógico que, para além da declaração de rendimentos, fosse obrigatória a publicitação, por parte dos titulares de todos os cargos públicos (e já agora, judiciais e do Estado), das eventuais ligações a organizações secretas ou "anónimas" (Maçonaria, Opus Dei, Opus Gay, etc, etc, etc)?
- Não seria pedagógico que, para além da declaração de rendimentos, fosse obrigatória a publicitação, por parte dos titulares de todos os cargos públicos (e já agora, judiciais e do Estado), das eventuais ligações a organizações secretas ou "anónimas" (Maçonaria, Opus Dei, Opus Gay, etc, etc, etc)?
HUM, VOCÊ DISSE...?
"O orçamento de um país é como o orçamento de uma família (...)" - Bagão Felix, actualmente ministro das Finanças deste país.
Hum. Poucos se lembrarão. Provavelmente nem Bagão Felix, a frase ter-lhe-à saído pedagógica, pedantemente pedagógica como é o seu estilo. Mas há coisas que não se devem esquecer - mesmo a um ministro de direita católico, conservador e apoiante ou participante da Opus Dei. Citar Salazar, que diabo!, só a este deveria lembrar.
Hum. Poucos se lembrarão. Provavelmente nem Bagão Felix, a frase ter-lhe-à saído pedagógica, pedantemente pedagógica como é o seu estilo. Mas há coisas que não se devem esquecer - mesmo a um ministro de direita católico, conservador e apoiante ou participante da Opus Dei. Citar Salazar, que diabo!, só a este deveria lembrar.
setembro 11, 2004
FUTEBOLÊS
"A partida entre o Gil Vicente e o Boavista é o exemplo daquilo que não deve ser um jogo de futebol e explica a razão porque os estádios, um pouco por todo o País, têm cada vez menos espectadores." (in abola.pt )
Então o futebol não ia passar a ter assistências grandiosas graças ao conforto dos estádios do Euro???
Então o futebol não ia passar a ter assistências grandiosas graças ao conforto dos estádios do Euro???
A REABILITAÇÃO URBANA E LISBOA (VI) - ESCAVAÇÕES
Pelo menos nas zonas dos chamados "Bairros Históricos" da cidade de Lisboa, existe uma obrigatoriedade legal de, nas obras que envolvam escavações, se comunicar o facto ao Museu da Cidade, que disponibilizará um técnico para as supervisionar, com o direito de suspender as mesmas durante o tempo que entender necessário para a análise e investigação do subsolo e de eventuais vestígios arqueológicos que possam aparecer.
É uma obrigatoriedade louvável. Em primeiro lugar porque permite garantir a recolha científica de elementos que poderão contribuir para um melhor conhecimento da história da cidade. Em segundo lugar porque poupa à autarquia as verbas consideráveis que seriam necessárias para a realização de campanhas que visassem a obtenção de resultados semelhantes.
Existe só um pequeníssimo senão.
Eu quero acreditar que a intenção do legislador fosse apenas a de aproveitar a boleia de trabalhos que seriam efectuados de qualquer maneira (a escavação), oferecendo graciosamente os préstimos de técnicos habilitados para acompanhamento das operações. Que dela estivesse afastado qualquer espírito proxeneta de lucrar com o trabalho dos outros. No entanto - e como em tantas leis deste país... - no espírito prático da lei esbarra esse quase irrelevante pormenor que se chama realidade. Que as empreitadas custam dinheiro até os funcionários públicos sabem - o Estado também as paga. O que, aparentemente, os funcionários públicos parecem desconhecer são os custos associados aos atrasos é às paragens das obras: os que se pagam ao empreiteiro por imobilização do estaleiro e, mais importantes e muito maiores, os de imobilização dos capitais, os dos juros dos empréstimos bancários que sustentam na esmagadora maioria das vezes a operação imobiliária, os lucros adiados pelo adiamento da venda do produto final, os lucros cessantes pela perca de oportunidades de negócio. É que as paragens não são de dias - são de semanas, podendo ser de meses se o achado se perspectivar como relevante. E nem valeria a pena mencionar, por irrelevante neste contexto, o material e a mão-de-obra de apoio que a instituição requer ao dono da obra... Logo, o que é previsível que aconteça na maioria dos casos é o inverso que se pretende, com a realização "clandestina" das escavações e a rápida destruição de achados, antes que a palavra chegue à instituição. Não se pense que isto é ficção ou especulação sobre uma possibilidade da lei. Conheci vários casos, tanto de paragens prolongadas de obras quanto de trabalhos realizados "por duendes".
Quando a obra é pública, os custos financeiros da paragem, face aos restantes, não serão de muita monta e, como disse, os restantes não existem (ou pelo menos não se contabilizam), correndo, quase sempre, as coisas de acordo com o legislado. Excepto quando a obra é anunciadamente propagandística e cada dia de atraso conta - e muito -nos índices de popularidade. Como por exemplo na obra de reconstrução dos Paços do Concelho e do parque de estacionamento adjacente que o mayor João Soares se comprometeu a realizar num ano. Esquecendo o pormenor da inversão no tempo que as datas de assinatura do contrato e de início da obra tiveram, quantas pessoas souberam dos fantasmas arquelógicos que por ali andaram?
Richard Wagner escreveu uma ópera que, se não me engano, em português se chama "O Navio Fantasma", não é?
É uma obrigatoriedade louvável. Em primeiro lugar porque permite garantir a recolha científica de elementos que poderão contribuir para um melhor conhecimento da história da cidade. Em segundo lugar porque poupa à autarquia as verbas consideráveis que seriam necessárias para a realização de campanhas que visassem a obtenção de resultados semelhantes.
Existe só um pequeníssimo senão.
Eu quero acreditar que a intenção do legislador fosse apenas a de aproveitar a boleia de trabalhos que seriam efectuados de qualquer maneira (a escavação), oferecendo graciosamente os préstimos de técnicos habilitados para acompanhamento das operações. Que dela estivesse afastado qualquer espírito proxeneta de lucrar com o trabalho dos outros. No entanto - e como em tantas leis deste país... - no espírito prático da lei esbarra esse quase irrelevante pormenor que se chama realidade. Que as empreitadas custam dinheiro até os funcionários públicos sabem - o Estado também as paga. O que, aparentemente, os funcionários públicos parecem desconhecer são os custos associados aos atrasos é às paragens das obras: os que se pagam ao empreiteiro por imobilização do estaleiro e, mais importantes e muito maiores, os de imobilização dos capitais, os dos juros dos empréstimos bancários que sustentam na esmagadora maioria das vezes a operação imobiliária, os lucros adiados pelo adiamento da venda do produto final, os lucros cessantes pela perca de oportunidades de negócio. É que as paragens não são de dias - são de semanas, podendo ser de meses se o achado se perspectivar como relevante. E nem valeria a pena mencionar, por irrelevante neste contexto, o material e a mão-de-obra de apoio que a instituição requer ao dono da obra... Logo, o que é previsível que aconteça na maioria dos casos é o inverso que se pretende, com a realização "clandestina" das escavações e a rápida destruição de achados, antes que a palavra chegue à instituição. Não se pense que isto é ficção ou especulação sobre uma possibilidade da lei. Conheci vários casos, tanto de paragens prolongadas de obras quanto de trabalhos realizados "por duendes".
Quando a obra é pública, os custos financeiros da paragem, face aos restantes, não serão de muita monta e, como disse, os restantes não existem (ou pelo menos não se contabilizam), correndo, quase sempre, as coisas de acordo com o legislado. Excepto quando a obra é anunciadamente propagandística e cada dia de atraso conta - e muito -nos índices de popularidade. Como por exemplo na obra de reconstrução dos Paços do Concelho e do parque de estacionamento adjacente que o mayor João Soares se comprometeu a realizar num ano. Esquecendo o pormenor da inversão no tempo que as datas de assinatura do contrato e de início da obra tiveram, quantas pessoas souberam dos fantasmas arquelógicos que por ali andaram?
Richard Wagner escreveu uma ópera que, se não me engano, em português se chama "O Navio Fantasma", não é?
POR FAVOR, QUEM É QUE ME PODE DESPACHAR ISTO?
De entre os procedimentos institucionais que me irritam, o que talvez me exaspere mais é o de tentar evitar um comportamento ilegal com a complicação do acto que o pode originar. Eu dou um exemplo: toda a gente compreende a possibilidade de, na encomenda pública de um serviço, se lesar o Estado, quer através da sobrefacturação do mesmo, quer na escolha de um fornecedor outro que não o mais competente. Não deveria acontecer e o Estado tem toda a legitimidade - toda a obrigação - para o impedir. Ora o que acontece em Portugal é que, à força de o prevenir ao invés de o castigar, se tornam processos simples tão complicados e tão morosos que o dinheiro eventualmente poupado na ilegalidade se multiplica no tempo consumido ou nas oportunidades perdidas.
Espero que, do que acabei de escrever, ninguém infira que defendo qualquer tipo de laxismo no combate à fraude ou à corrupção. Antes pelo contrário. Defendo, isso sim, que se procurem manter os processos simples; que se tornem eficazes os mecanismos de controlo dos resultados; e que se castiguem exemplarmente os culpados. (E na função pública seria tão simples: processo sumário de despedimento com a proibição vitalícia de reintegração). É difícil? Não seria mais fácil do que levar um ano para lançar uma empreitada (é practicamente impossível, respeitando totalmente a lei, fazê-lo em menos tempo, ver cair prédios porque a papelada não foi despachada a tempo, etc, etc, etc?
Espero que, do que acabei de escrever, ninguém infira que defendo qualquer tipo de laxismo no combate à fraude ou à corrupção. Antes pelo contrário. Defendo, isso sim, que se procurem manter os processos simples; que se tornem eficazes os mecanismos de controlo dos resultados; e que se castiguem exemplarmente os culpados. (E na função pública seria tão simples: processo sumário de despedimento com a proibição vitalícia de reintegração). É difícil? Não seria mais fácil do que levar um ano para lançar uma empreitada (é practicamente impossível, respeitando totalmente a lei, fazê-lo em menos tempo, ver cair prédios porque a papelada não foi despachada a tempo, etc, etc, etc?
ASSIM É DIFÍCIL...
Julgo que será cada vez mais difícil para os comediantes arranjar público em Portugal. Quem quererá gastar dinheiro a ouvir piadas requentadas quanto tanto disparate é debitado diária e gratuitamente via canais generalistas?
O José Eduardo Moniz referindo-se a um novo concurso: "Tem imensa piada... o concorrente pode perder quase tudo que tem em casa" (sorriso alarve, sorriso alarve...);
Uma peça jornalística que refere que os portugueses já sentem no bolso a retoma, seguida da reportagem sobre os salários em atraso na Casa do Douro;
O Ministro do Ambiente que já copiou o tique do seu colega da Defesa de apertar os esfinteres para ficar mais direito na cadeira (mais pose de Estado, mais pose de Estado) a citar ufano - com pausas dramáticas - o relatório da Comissão de inquérito ao acidente nas instalações da GALP de Matosinhos, acusando a empresa de conduta negligente e o presidente executivo da mesma a responder sorridente, no dia seguinte e após reunião com o ministro, que "aquilo" foi "um acidente de pequena dimensão" e que tudo "está bem".
Lamento mas não ouvi a prédica diária do senhor Primeiro-Ministro.
O José Eduardo Moniz referindo-se a um novo concurso: "Tem imensa piada... o concorrente pode perder quase tudo que tem em casa" (sorriso alarve, sorriso alarve...);
Uma peça jornalística que refere que os portugueses já sentem no bolso a retoma, seguida da reportagem sobre os salários em atraso na Casa do Douro;
O Ministro do Ambiente que já copiou o tique do seu colega da Defesa de apertar os esfinteres para ficar mais direito na cadeira (mais pose de Estado, mais pose de Estado) a citar ufano - com pausas dramáticas - o relatório da Comissão de inquérito ao acidente nas instalações da GALP de Matosinhos, acusando a empresa de conduta negligente e o presidente executivo da mesma a responder sorridente, no dia seguinte e após reunião com o ministro, que "aquilo" foi "um acidente de pequena dimensão" e que tudo "está bem".
Lamento mas não ouvi a prédica diária do senhor Primeiro-Ministro.
setembro 09, 2004
A PIADA DO DIA
"Agora que o défice está controlado e se vê a retoma económica fruto das políticas do Governo (...)" (PM-PSL na comunicação diária ao país via comunicação social)
setembro 08, 2004
DES(GRAÇAS)
Não fora o facto de vidas estarem realmente em jogo e toda esta história do rapto dos jornalistas franceses no Iraque daria uma risível história em argumento hollywoodiano. Primeiro o rapto e a incomodidade das gentes: "Mas franceses...? A França não participou na invasão... foi contra... perdeu até o exclusivo das batatas fritas nos Estados Unidos...". Depois as explicações científicas, aparentemente comprovadas pelos próprios raptores: "É por causa da proibição dos símbolos religiosos nas escolas públicas... Um ataque mais grave ao Islão do que a deposição de Sadam..." Finalmente, após uma fatwa esclarecedora, a verdade pura e dura: 5 milhões de euros.
É, it's a dog's world out there.
É, it's a dog's world out there.
setembro 07, 2004
PRODUTIVIDADES
O discurso sobre o nível de produtividade dos portugueses já enjoa de tão repetidamente errado. As respostas pret-a-porter para políticos debitarem em prime-time têm destas coisas: ainda que sirvam para muitos ajustam-se rigorosamente a muito poucos. Ficam ligeiramente enfoladas nos ombros. Um pouco largas no peito. Alguns centímetros curtas nas extremidades.
Como se mede a produtividade? Como é que a mesma influencia na riqueza nacional? Se não me falha a memória, ela é a razão entre o produto bruto e o número de trabalhadores, qualquer coisa como a riqueza produzida per capita. Um pensamento apressado não terá dúvidas em concluir que mais riqueza implica maior produtividade o que, mantendo-se o número de trabalhadores, implicará o aumento do produto bruto. O qual, naturalmente, terá de ser produzido pelos citados trabalhadores. Em termos simples, maior produção no trabalho de cada um implicará maior riqueza para todos (neste caso, para as empresas e, indirectamente, para o país). Este o raciocínio simples, colocado na boca de todos, políticos, jornalistas e comentadores (curiosamente, não o oiço muito na boca dos economistas e gestores privados).
Ensinou-me a experiência que se há coisa que a economia sabe fazer bem é encontrar variados caminhos para se chegar ao mesmo resultado final. O que, no caso presente, significa que se pode produzir o mesmo aumento da produtividade através da diminuição do número de trabalhadores - ou seja, garantir que menos originem o mesmo resultado final. É uma equação que funciona ao agrado das empresas: menos custos fixos, maiores lucros. Funcionará bem para o Estado? Com mais desemprego (a exigir maior gastos sociais) e sem aumentar o produto gerado, parece-me que não. E no entanto...
Vejamos agora um outro factor: quantas empresas - privadas - se queixam da pouca produção dos seus trabalhadores? Eu não conheço nenhuma. Simplesmente porque, através de incentivos, de pressões várias, de estratégias diversas, as empresas - porque têm absoluta necessidade disso - alcançam os seus objectivos. As que não os alcançam acabam por falir. Onde se nota então a falta de produtividade? Obviamente no Estado. No Estado que emprega 5 trabalhadores para fazer um trabalho que, no privado, 1 ou 2 fazem. No Estado que necessita de 6 meses para executar um trabalho que, no sector privado, é feito em dois ou três. No Estado que, ainda mais gravemente, faz reflectir no sector privado esta produtividade coxa, ao lhe impôr, pela burocracia exigida, pelos prazos próprios reclamados, uma lentidão desesperante.
É fácil aliviar o peso das nossas costas para cima das costas dos outros. Não resolve nada, no entanto. Mas enquanto o pau vai e vem...
Como se mede a produtividade? Como é que a mesma influencia na riqueza nacional? Se não me falha a memória, ela é a razão entre o produto bruto e o número de trabalhadores, qualquer coisa como a riqueza produzida per capita. Um pensamento apressado não terá dúvidas em concluir que mais riqueza implica maior produtividade o que, mantendo-se o número de trabalhadores, implicará o aumento do produto bruto. O qual, naturalmente, terá de ser produzido pelos citados trabalhadores. Em termos simples, maior produção no trabalho de cada um implicará maior riqueza para todos (neste caso, para as empresas e, indirectamente, para o país). Este o raciocínio simples, colocado na boca de todos, políticos, jornalistas e comentadores (curiosamente, não o oiço muito na boca dos economistas e gestores privados).
Ensinou-me a experiência que se há coisa que a economia sabe fazer bem é encontrar variados caminhos para se chegar ao mesmo resultado final. O que, no caso presente, significa que se pode produzir o mesmo aumento da produtividade através da diminuição do número de trabalhadores - ou seja, garantir que menos originem o mesmo resultado final. É uma equação que funciona ao agrado das empresas: menos custos fixos, maiores lucros. Funcionará bem para o Estado? Com mais desemprego (a exigir maior gastos sociais) e sem aumentar o produto gerado, parece-me que não. E no entanto...
Vejamos agora um outro factor: quantas empresas - privadas - se queixam da pouca produção dos seus trabalhadores? Eu não conheço nenhuma. Simplesmente porque, através de incentivos, de pressões várias, de estratégias diversas, as empresas - porque têm absoluta necessidade disso - alcançam os seus objectivos. As que não os alcançam acabam por falir. Onde se nota então a falta de produtividade? Obviamente no Estado. No Estado que emprega 5 trabalhadores para fazer um trabalho que, no privado, 1 ou 2 fazem. No Estado que necessita de 6 meses para executar um trabalho que, no sector privado, é feito em dois ou três. No Estado que, ainda mais gravemente, faz reflectir no sector privado esta produtividade coxa, ao lhe impôr, pela burocracia exigida, pelos prazos próprios reclamados, uma lentidão desesperante.
É fácil aliviar o peso das nossas costas para cima das costas dos outros. Não resolve nada, no entanto. Mas enquanto o pau vai e vem...
LEITURAS
As férias trazem coisas engraçadas. Como arrebanharmos uma carrada de livros que fomos comprando ao longo do ano e não tivemos tempo de esgotar, na esperança de nos pormos em dia com o atraso. E depois lê-los todos e catar mais alguns perdidos de expedições idênticas de anos anteriores.
E assim li - finalmente? - o On the Road . Atrasado uma ou duas gerações em relação aos contemporâneos do livro escapa-me a emoção que muitos deles devem ter sentido ao lê-lo. A emoção de encontrar o mesmo tipo de desassossego que sentiam - um desassossego muito pouco pessoano e muito caracteristicamente novo-mundista, muito próprio de sociedades que ultrapassaram o tempo da sobrevivência e se preocupam com a ocupação dos dias da abundância. Bom, li o On the Road quarenta e sete anos após a sua publicação e muitas águas passadas por todas as pontes do mundo. E, ainda que não me ocupe muito a necessidade de fazer quilómetros para buscar o outro lado do continente porque o actual parece esgotado de soluções, dei comigo a traçar, no atlas cá de casa, os caminhos percorridos no livro. A criar variantes. A inventar novas viagens.
Eu português descendente do senhor Oliveira de Figueira me confesso: o mundo é a derradeira curiosidade e percorrê-lo a última resposta.
E assim li - finalmente? - o On the Road . Atrasado uma ou duas gerações em relação aos contemporâneos do livro escapa-me a emoção que muitos deles devem ter sentido ao lê-lo. A emoção de encontrar o mesmo tipo de desassossego que sentiam - um desassossego muito pouco pessoano e muito caracteristicamente novo-mundista, muito próprio de sociedades que ultrapassaram o tempo da sobrevivência e se preocupam com a ocupação dos dias da abundância. Bom, li o On the Road quarenta e sete anos após a sua publicação e muitas águas passadas por todas as pontes do mundo. E, ainda que não me ocupe muito a necessidade de fazer quilómetros para buscar o outro lado do continente porque o actual parece esgotado de soluções, dei comigo a traçar, no atlas cá de casa, os caminhos percorridos no livro. A criar variantes. A inventar novas viagens.
Eu português descendente do senhor Oliveira de Figueira me confesso: o mundo é a derradeira curiosidade e percorrê-lo a última resposta.
NASCIDOS PARA MATAR
Se é verdade que o olhar de um artista nos revela algo sobre o objecto da sua observação, então pode ser que se consiga aprender alguma coisa sobre o modo como os americanos justificam as suas guerras a partir de um filme como "Full Metal Jacket".
"The reason we help vietnamits is because inside each one is an american craving to get out".
Acho que esta frase se pode aplicar ao presente Iraque. Aliás parece-me que resume magnificamente a presunção americana de que todos os povos desejam a democracia, todos os povos merecem a democracia e, com os diabos!, todos os povos a terão a bem ou a mal.
"The reason we help vietnamits is because inside each one is an american craving to get out".
Acho que esta frase se pode aplicar ao presente Iraque. Aliás parece-me que resume magnificamente a presunção americana de que todos os povos desejam a democracia, todos os povos merecem a democracia e, com os diabos!, todos os povos a terão a bem ou a mal.
setembro 03, 2004
O ABORTO (I)
Ai a extrema-esquerda, a extrema-esquerda... Estragar assim a intervenção gratuita da CML no prédio do PP...
setembro 01, 2004
VOU ALI JÁ VOLTO
Voltar para Lisboa a trabalho é uma seca. Entrar desprevenido no IC19 direcção Sintra-Lisboa às oito da manhã é um susto para quem como eu insiste em morar na capital e está, como tal, resguardado destas torturas.
Felizmente que existem caminhos escusos que, mais ou menos, asseguram a ligação entre Rio de Mouro e S. Domingos de Rana e uma auto-estrada menos entupida e a CREL e uma estação de serviço para trocar de carro como alternativa. Tudo isto para conseguir chegar a horas a uma reunião em Tomar.
Vou mas é de férias outra vez.
Felizmente que existem caminhos escusos que, mais ou menos, asseguram a ligação entre Rio de Mouro e S. Domingos de Rana e uma auto-estrada menos entupida e a CREL e uma estação de serviço para trocar de carro como alternativa. Tudo isto para conseguir chegar a horas a uma reunião em Tomar.
Vou mas é de férias outra vez.
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